Lançarei
em Curitiba no dia 18 de outubro o livro com o mesmo título deste artigo. Tendo
em vista que muitos leitores do Gazeta do Povo já vêm me acompanhando há muito
tempo através destes artigos, gostaria de aproveitar este para motivá-los a
comparecer ao evento, através da resposta à pergunta que o título instiga: Afinal,
qual é a alma da escola que queremos vislumbrar
para este século?
Sou
da opinião de que algumas políticas educacionais presentes estão orientando a
formação dos professores e suas práticas pedagógicas apenas para satisfazer a dimensão terrena dos alunos – isto é, ocupar
um espaço no mercado de trabalho – desprezando outras mais elevadas. Desde os
tempos mais remotos, a tarefa de educar sempre objetivou em primeiríssimo lugar
que o aluno fosse uma pessoa humana
completa, integrando dimensões racionais, volitivas, afetivas, sociais e
espirituais. Nunca poderemos esquecer, como apontaram diversos filósofos
antigos – como Aristóteles, em “Ética a Nicômaco” – e atuais – como MacIntyre,
em “Animais racionais dependentes: Por que o ser humano precisa de virtudes” –
que o Homem é um animal racional e dependente dos outros. Tem alma e corpo, e
está destinado a ser feliz somente na harmonia consigo mesmo e com os demais. Para
isso precisa educar tanto a alma quanto o corpo.
Ninguém
se realiza conseguindo apenas um emprego, por mais qualificado e prestigioso
que seja. O aluno precisa descobrir, já na escola, que há uma dimensão ética profunda
na realização de seu futuro trabalho, que o levará a amadurecer ao longo da
vida e a viver feliz. Não basta, portanto, apenas produzir “ciência sem
consciência”, como ocorre hoje em tantos campos do saber ou, o que é pior,
trabalhar pensando apenas na remuneração financeira como um fim em si mesmo.
Este
processo difícil e demorado de formação ética é algo que deve ser priorizado
tanto na educação familiar quanto na escolar, especialmente nos dias atuais. O
descuido com este aspecto essencial da educação é o que está causando a morte
da “alma” da escola e, consequentemente, da dos pais, professores e alunos.
Parece que, atualmente, as escolas estão muito preocupadas com o seu “corpo” –
boas instalações, computadores, esportes, viagens, aprovação no vestibular, sucesso
acadêmico e econômico a todo o custo –, mas estão desprezando a “alma”. Fica fácil intuir, portanto, porque muitos sistemas
educacionais estão em processo de putrefação. Infelizmente, é o que acontece na
grande maioria das escolas brasileiras, sejam públicas ou particulares. Os alunos
que se formam saem dos colégios inanimados,
porque não foram formados nessa dimensão ética e transcendental. Muitos
conseguirão sucesso acadêmico e profissional, mas não conseguirão responder a
questões essenciais da vida: Para que existir? Para que trabalhar? Para que
sofrer? Para que morrer? Para que amar? Por que viver as virtudes é necessário
para alcançar a felicidade?
O
livro a ser lançado quer convidar o leitor nos seus 25 artigos à reflexão
acerca de temas em torno da necessidade de ressuscitar
a alma da escola. Esta, sem dúvida, deve ser uma responsabilidade
primeiríssima da família, junto com a escola. Tudo indica que é preciso
resgatar uma educação mais personalizada, que considere cada pessoa como única
no universo, e educá-la a partir daí, ensinando-lhe a vivência das virtudes que
a capacitem para o outro. Victor García Hoz, pedagogo espanhol, define como
objetivo central da Educação Personalizada “a capacitação do sujeito para formular e realizar seu projeto pessoal
de vida”. A educação personalizada apoia-se na consideração do ser humano como
pessoa única, e não simplesmente como um ser que reage ao estímulo do meio.
A
formação pessoal se caracteriza pelas notas de singularidade, autonomia e
abertura. Uma escola que respeita a singularidade
sabe sujeitar o trabalho e as relações escolares à capacidade, interesse, ritmo,
particularidades do sexo e circunstâncias sociais de cada estudante, e estimula
sua criatividade e o desenvolvimento de suas peculiaridades. Quando defende a autonomia, favorece sua participação na
dinâmica da escola e nas escolhas pedagógicas possíveis, mas sempre dentro dos
limites éticos. Por fim, promove ainda
sua abertura, buscando que sua
comunicação com os demais participantes da comunidade educativa seja rica em
complementaridade, respeito e serviço.
Infelizmente,
esta visão da educação esbarra em dois inimigos, muito presentes na maioria das
escolas: o falso conceito de autonomia do aluno e o relativismo. Segundo algumas
pedagogias modernas, o aluno deve desenvolver-se por si mesmo, sem imposições
por parte dos demais nem de nenhuma autoridade. Esta apenas forneceria o
suporte a seu autodesenvolvimento, sem, no entanto, se envolver no processo
educacional. Quem pensa assim de fato, ou não conhece profundamente como funciona
a natureza humana, ou então é possível que esteja buscando justificativas para
se omitir, por diversas razões, na difícil missão de educar. Estas posturas, em
geral, estão permeadas de visões relativistas da vida, que afirmam não existir,
na prática, uma verdade objetiva que precisa ser descoberta através da educação.
Quem pensa assim não percebe que está dando um cheque em branco para a
mentira... matando a alma do aluno e a da escola. Mais cedo ou mais tarde, as
paixões e tudo o que elas trazem consigo, para tristeza de todos, as asfixiarão
.
[1] http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1058324&tit=A-alma-da-escola