Entrevista concedida ao responsável do Portal da Família - Sr. Wanderley - no dia 05 de novembro de 2010, sobre o livro A ALMA DA ESCOLA DO SÉCULO XXI. Cfr. http://www.portaldafamilia.org
Uma escola tem alma?
Como
qualquer organismo vivo, a escola também tem uma alma, que deverá ser seu “princípio
de operações” escolares e que se resumirá na busca da própria excelência
humana. Para que isto ocorra, é preciso que pais, professores, funcionários e
alunos tenham um projeto comum de
melhora integral, que leve a buscar integrar inteligência, vontade e
afetividade em cada ação de ensino-aprendizagem. A alma da escola será um
reflexo da alma de cada elemento do ambiente escolar.
Infelizmente,
muitos pais e educadores ao escolherem e avaliarem a melhor escola para os seus
filhos/alunos nos dias que correm os critérios são incompletos: boas e modernas
instalações, que aprovem muitos alunos nos melhores vestibulares, que se destaquem nos
esportes..., portanto, um olhar mais para o “corpo” da escola. Sou da opinião
que esta visão distorcida é a grande vilã de qualquer centro educativo, seja
ela particular ou pública, pois o leva a perder a sua própria identidade e
missão. Quando isto ocorre, os próprios professores também ficam desfigurados e
desmotivados.
Torço
e vislumbro no horizonte de médio prazo uma escola que “ressuscite” a alma da
escola, tornando o corpo muito mais saudável!
Esse é um livro para
professores?
Não.
Acredito que este livro deverá ser lido por qualquer pessoa de boa vontade que
queira arregaçar as mangas na área educativa, sejam pais, trabalhadores da
educação, políticos, formadores de opinião. É um fato que todos gostam de reclamar
da nossa péssima posição no ranking educacional quando comparado aos principais
países do mundo. Falam, sugerem, opinam, reclamam, dogmatizam, mas acredito que
a imensa maioria dessas pessoas não sabe dizer qual a verdadeira solução,
porque já perderam o olhar mais profundo do que seja realmente educar:
desconhecem quem é essa pessoa humana
que é preciso educar. Fala-se de aumentar verbas nos orçamentos governamentais,
de darem-se incentivos financeiros aos que alcançarem resultados mais positivos,
de se formar melhor os professores, de atualizar a pedagogia e a avaliação,
entre outras coisas, mas tudo isto será insuficiente enquanto não se voltar a
resgatar o verdadeiro conceito de ser humano e da escola.
Como surgiu a ideia
de escrever esse livro?
No
início de 2008, após ter defendido o doutorado em educação na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alguns amigos e alunos que me conheciam pelas
palestras que dava em várias universidades e escolas sobre ética na educação,
me sugeriram que começasse a escrever algo para os jornais, que compartilhasse
os “gritos educacionais” que dava nessas palestras com a sociedade. Gostei da
sugestão, fiz uma primeira experiência, uma segunda e quando cheguei ao 16˚
artigo publicado e analisei os inúmeros emails que me chegavam no dia seguinte
da publicação, percebi que havia uma repercussão muito positiva e deveria
aumentar meu público alvo. Reuni 25 artigos – uns mais de divulgação e outros
mais científicos – que de alguma forma poderia abranger um leque maior de
leitores e publiquei o livro. Fico contente que, após o lançamento do mesmo, em
agosto de 2010, a Editora se surpreendeu com as vendas.
Educação
Personalizada tem algo a ver com as chamadas escolas construtivistas?
A
Educação personalizada tem alguns princípios que poderiam se assemelhar, em
parte, ao construtivismo, quando se incentiva a autonomia da criança, mas diria
que a forma como se processa a educação personalizada é mais correta e
eficiente. Na perspectiva de Vitor
Garcia Hoz, é olhar cada aluno na sua SINGULARIDADE. Cada um tem um caminho
único a andar, um ritmo próprio, um temperamento dominante, uns talentos que
precisará potencializar e uma vocação a descobrir e desenvolver. Por isso, é
preciso ir fomentando na criança, dentro dos limites éticos, uma verdadeira AUTONOMIA,
que significa ir ganhando uma capacidade de usar corretamente sua liberdade,
por meio das virtudes morais. Uma consequência desse amadurecimento nas
virtudes é a ABERTURA aos demais, procurando descobrir a riqueza do espírito de
serviço e da entrega aos outros, próprios da verdadeira amizade.
Já temos no Brasil
algumas escolas que adotam a educação personalizada?
Sim.
O Colégio Catamarã, em São Paulo, o Colégio Nautas, em Campinas, e a Escola do
Bosque Mananciais, em Curitiba, são os que conheço atualmente que trabalham com
este modelo educativo.
Ajudar um aluno a se
formar em todas as suas dimensões parece ser um desafio muito grande para as
escolas. Seu livro orienta como preparar um quadro de professores
capacitados para essa missão?
Sim.
A minha grande motivação ao escrever cada artigo deste livro, como já disse,
foi ajudar muitos pais e professores a descobrirem que educar exige um
conhecimento mais profundo do ser humano e que não basta ser muito bom no
conteúdo da sua disciplina para se tornar um bom professor. Acredito que
qualquer professor que se aprofundar em cada capítulo deste livro terá
condições de exercer com muito mais capacidade e felicidade seu magistério.
E se o próprio
educador não se sente plenamente formado em todas as dimensões (racionais, volitivas,
afetivas, sociais e espirituais),
mesmo assim ele pode almejar essa formação para seus alunos?
Efetivamente, quando
costumo dar palestras em escolas ou universidades, a sua pergunta é uma das
mais frequentes. Costumo perceber, enquanto vou falando, que muitos assistentes
vão desanimando quando vão notando que estão muito distante do ideal que
proponho. A reação costuma ser pior ainda quando os pais percebem que estão
indo na direção contrária na que proponho em relação à educação dos seus filhos.
A
resposta é que é sempre possível mudar a direção da viagem da vida,
principalmente quando se descobre que o destino final não será dos melhores.
Mas uma coisa é certa: quanto mais tempo
demorarmos para mudarmos em nós mesmos alguns princípios norteadores ou nos nossos
filhos/alunos, mais difícil se tornará. Por isso, pretendo, com este livro,
chegar antes que seja tarde a muitas famílias de boa vontade, que queiram de
fato tornar seus filhos realmente felizes.