Este artigo foi publicado no Gazeta do Povo (Curitiba) no dia 30 de janeiro de 2011 [1]
Como consultor e conferencista educacional,
torna-se cada vez mais comum para mim, principalmente no início de cada ano,
ter de responder a inúmeros pais sobre as vantagens e desvantagens de
determinado modelo escolar. Parece que paira no horizonte social certo
descontentamento pelo que vem sendo oferecido na comunidade escolar – pública ou
particular – e por isso é natural que os responsáveis pela educação comecem a
buscar novas alternativas. Mas perguntemo-nos: o que estará incomodando esses
pais?
Há
alguns anos era a péssima qualidade do ensino, depois apareceram problemas de
disciplina, bulliyng, drogas,
estresse dos professores... Hoje, outras questões muito mais delicadas parecem
inquietar os responsáveis, como ideologias sobre novos tipos de família, de
sexualidade ou de orientação sexual; novas teses científicas em diversas áreas transmitindo
uma visão claramente materialista; imposições absurdas com relação à boa
autoridade e à disciplina... Enfim, tópicos bastante controvertidos vão sendo introduzidos
nos currículos de vários centros de ensino e impostos em cartilhas às crianças
desde muito cedo, causando depois profundas deformações em suas consciências.
Parece natural, portanto, que algumas famílias que querem o melhor para os seus
filhos comecem a acordar para o perigo que se avizinha e se mobilizem em busca
de novas modalidades de ensino que de alguma maneira preservem os seus valores humanos
e os seus ideais transcendentes.
Este
direito dos pais de escolher com prioridade o gênero de educação que querem
para os seus filhos está garantido na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em seu artigo 26. Mas na hora de escolherem, muitas famílias sentem
ainda hoje o autêntico monopólio e controle estatal, com um evidente viés
ideológico. É uma pena! Sou da opinião de que somente quando as autoridades
educacionais, em todos os seus níveis de ensino, começarem a compartilhar com a
sociedade o enorme peso de acharem soluções para a qualidade do ensino, será
possível vislumbrar as tão sonhadas melhorias a médio e longo prazo.
Quando
me consultam sobre as vantagens e desvantagens do homeschooling, da educação diferenciada por sexo, das charter schools – modalidades escolares
que vão sendo experimentadas com relativo sucesso já faz várias décadas em
países desenvolvidos –, minha resposta é sempre a mesma: estas formas dependem
das condições dos pais, dos professores, dos filhos, da comunidade, da cultura
para dar certo ou não. Em educação não deve haver padronizações. Nunca se poderá
tratar de forma igual as crianças desiguais, mesmo numa família com diversos
filhos. Cada um é único e tem de ser ajudado a encontrar o caminho escolar que melhor
o realize. Portanto, é importante que o governo enxergue que poderá ser muito
salutar oferecer ao sistema educacional mais modalidades de ensino que de
alguma maneira proporcionem novos remédios para tratar as atuais doenças
educacionais, cada vez mais multifacetadas.
Examinemos
alguns exemplos concretos: o homeschooling.
Em geral, as famílias que adotaram este modelo com sucesso apresentavam características
bem definidas: muitos moravam longe dos melhores centros de ensino, tinham
vários filhos, comungavam princípios éticos e valores humanos bem definidos, possuíam
níveis culturais e econômicos razoáveis, os pais trabalhavam dentro ou próximos
do lar, entre outros aspectos. Os resultados acadêmicos, principalmente nos EUA
e na Inglaterra, foram melhores que os das escolas regulares, fossem elas
públicas ou privadas. As consequências no aspecto do desenvolvimento
psicossocial dos alunos, por mais que algumas teorias desaconselhassem o modelo,
também surpreenderam. Os estudos de Brian Ray, um pesquisador americano deste modelo, revelaram
que os níveis de ajustamento emocional e social eram superiores se comparados aos
das crianças que frequentavam escolas convencionais. No Brasil, ficaram famosos
alguns casais que se aventuraram por esta via educacional e os resultados
apresentados foram semelhantes. Infelizmente, não receberam o apoio do governo
que se deveria esperar.
Averiguemos
a Educação diferenciada por sexo, modalidade que inclusive foi amplamente
discutida no Brasil, em dois seminários internacionais realizados nos últimos
dois anos. Superados os preconceitos iniciais – oriundos de um passado que
adotava uma modalidade que levava o mesmo nome, mas claramente diferente, pois
privilegiava mais os homens que as mulheres, sendo portanto segregadora –, os resultados científicos têm sido
positivos. Segundo pesquisa empreendida por Cornelius Riordan, pesquisador
americano da educação diferenciada por sexo, tal modelo se mostra uma
alternativa educacional que eleva consideravelmente alguns índices de avaliação
da qualidade do ensino, como 1) aquisição cognitiva; 2) comportamento
relacional; 3) desenvolvimento psicossocial; 4) aquisição ocupacional (tempo de
atividades escolares); 5) controle do ambiente escolar; 6) atenção e
concentração em sala. Para que esta forma de educação tenha sucesso, os pais
precisam ser mais comprometidos com a educação e querer envolver-se
efetivamente, dedicando mais tempo na própria formação integral, para que
família e escola estejam durante todos os dias da semana em busca dos mesmos
ideais. Portanto, é modalidade que não poderá ser para todos, apesar de que no
Chile já esteja sendo aplicada em quase todo o ensino público.
Podemos
concluir que está na hora de o Brasil quebrar seu “muro de Berlim” educacional
e encarar esta urgência educativa com um espírito mais desbravador. É preciso
abrir-se a alternativas inovadoras que de alguma maneira façam ressurgir novas
motivações educacionais na comunidade escolar. Perder o medo de ser menos
ideológico e mais realista. De enxergar a
educação como uma educação personalizada e menos massificada. Mas
perguntemo-nos: quem foram os que estavam junto do muro de Berlim naquela noite
histórica de 1989? Pais de família, jovens estudantes, trabalhadores honestos,
pessoas comuns... Espero encontrá-los também nesta empreitada!
[1] http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1091627&tit=Novos-modelos-de-colegio
[1] http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1091627&tit=Novos-modelos-de-colegio