O
conhecimento antropológico sobre a pessoa humana, nos dias que correm, encontra-se
bastante débil. Consequentemente, muitas pessoas, tanto nas famílias quanto nas
escolas, não sabem já o que é educar realmente o ser humano. Existe como que uma
cegueira que impossibilita descobrir e valorizar um dos principais objetivos
educativos do momento: o desenvolvimento e integração das potências humanas –
inteligência, vontade e afetividade – para uma ação correta da criança. Essas potências se encontram hoje nelas
completamente soltas, independentes, atrofiadas ou hipertrofiadas e uma grande
maioria dos educadores não sabe que uma das suas principais missões é voltar
a juntá-las e harmonizá-las. Quando isso não acontece, provoca-se o que eu chamo
de um “desmonte” da pessoa humana. Hoje busca-se educar não mais a verdadeira e
única natureza humana, mas uma nova natureza, “não humana”, criada pelo homem
pós-moderno, que leva a valorizar de forma excessiva a parte afetiva. O
fracasso educativo se comprova, depois, na imensa maioria das pessoas nos dias
atuais.
A
solução que propomos, em ritmo de “emergência educativa”, para enfrentar essa
grave crise, talvez para muitos ainda inconsciente, é oferecer para as escolas
um Projeto de tutoria que de alguma maneira tente suprir as lacunas que hoje os
alunos apresentam no ambiente escolar. Qualquer professor que enfrenta várias
salas de aula, desde a educação infantil até ao último ano do ensino médio,
vivencia um aluno cada vez mais imaturo para a série/ano, muitos apresentam um
quadro de desinteresse, desligamento, desconcentração ou ainda, o que é pior,
de fraca aprendizagem. Estão sem qualquer perspectiva futura. Não aprenderam a
estudar, a se organizar, a se esforçar, a ser proativos. Está mais do que
comprovado, nos inúmeros estudos acadêmicos que existem sobre essa temática, que
este triste quadro, na sua grande maioria das vezes, está associado à família
desse alunado que não sabe priorizar esse acompanhamento escolar, que não sabe
fazê-lo, porque não teve essa mesma experiência quando foi estudante (se é que
foi), ou ainda, porque realmente tem atitudes mais de indiferença do que
compromisso educativo. Antigamente, quando aconteciam esses desajustes
escolares, o colégio chamava a família, procuravam encontrar
alternativas que ambas assumiam de comum acordo, havia o que eu chamo de zelo educativo. Infelizmente, isto se
foi perdendo nas últimas décadas, e a saída para essa situação lamentável foi
um enfraquecimento educacional em quase todos os âmbitos. As escolas foram se
adaptando ao fraco alunado e diminuindo a exigência, a dedicação e o próprio
papel de educadoras. Os objetivos se tornaram imediatistas, materialistas –
conseguir a aprovação nos diversos exames de seleção universitários almejando
no futuro somente um bom emprego – e mercantilistas. Instala-se um processo de
enganação educativo, onde pais, professores e alunos vivem num disfarçado
conluio.
Por outro lado, tem escolas que não
se entregam à pressão do mercado. Arregaçam as mangas e tentam reagir. Oferecem
a tutoria na escola. O mais interessante é perceber que os alunos gostam dela.
De alguma maneira, aquela natureza humana que estava “adormecida” – talvez
nunca tenha sido acordada desde que nasceu – desperta e sente uma nova sensação
de esperança. Experimenta um frescor de humanidade. Começa a perceber que pode
ser capaz de mudar o quadro negro que vê todos os dias quando vai para a
escola. Novas luzes começam a brilhar e sua autoestima começa a aumentar.
Agradece sinceramente ao tutor aquelas orientações e no começo realmente se
esforça por colocá-las em prática. Depois desanima, porque não é fácil
perseverar num esforço que nunca se aprendeu a realizar. Mas, depois de um
período de pessimismo, tenta recomeçar. Se o tutor consegue realmente ganhar
sua confiança e amizade, por elas consegue superar essa fase e avança. Os
resultados são quase sempre positivos na tutoria. Este é o grande trunfo que os
tutores têm na mão. Com esse trabalho tutorial perseverante, o aluno começa a
aprender a se organizar, a fazer um horário de estudo, a colocar umas metas
semanais e mensais de tempo de estudo, aprende a resumir uma leitura, a fazer
exercícios das disciplinas de exatas, a fazer amigos, a vencer a timidez. Aprende, no fundo, a valorizar as capacidades socioemocionais. Os resultados escolares começam a
aparecer rapidamente e a motivarão a crescer. O sentido de responsabilidade vai
se consolidando.
Diante do que foi dito acima, a
instituição de ensino que promover um Projeto de tutoria, pelo menos no seu
começo, terá que contar com uma certa dose de paciência para convencer os pais,
os professores e os próprios alunos da necessidade desta novidade educativa.
Muitos, no início, a confundirão com o reforço escolar, com aula particular, com
aconselhamento de autoajuda, com a monitoria de estudos.
A fim de driblar essas
dificuldades de comunicação, é muito aconselhado que se promova uma
apresentação rápida para os pais sobre esta temática, talvez aproveitando uma
reunião no colégio, a fim de expor suas vantagens. Outra estratégia, alinhada
com a anterior, será colocar no site do colégio o que se faz na tutoria, quem
são os tutores, depoimentos de outros pais e alunos, testemunhando seus avanços
e melhoras. Os professores também têm que ser convencidos nas reuniões
pedagógicas de suas vantagens, de maneira que também possam estimular seus
alunos a buscarem esse recurso de veras eficaz. Por fim, a comunicação dos
próprios tutores em sala de aula e nos corredores da escola também se
demonstrou muito eficaz, principalmente no início de cada semestre, colocando
cartazes nos corredores da escola, espalhando folhetos explicativos, entre
outras estratégias.
Concluindo, diria que,
sem dúvida, a melhor propaganda em todas as escolas que foram implantadas esta
modalidade educativa de vanguarda é o “boca a boca” dos alunos que perceberam
melhoras em si mesmos. Quando eles encontram mestres que de verdade demonstram
verdadeira amizade, respeito, carinho, interesse, zelo educativo, então
comunicam rapidamente aos demais colegas e estes a outros.