O presente trabalho tem como objetivo relatar uma descoberta educacional
relevante, oriunda de uma experiência pessoal realizada num colégio de grande
porte (6.000 alunos), no Rio de Janeiro, chamado Colégio Santa Mônica, entre
2014-2015. No primeiro ano foi implantado um Projeto de Virtudes, do 6º ano do
ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, que consistia basicamente em
aulas sobre as virtudes morais que correspondem a cada segmento e idade. No ano
seguinte, em paralelo a esse projeto, iniciou-se um novo Projeto de preceptoria,
sem relação com o primeiro, que constituía em conversas com os alunos que
desejassem sobre as dificuldades escolares. Inicialmente, esses projetos
nasceram como independentes, com professores específicos para cada um, apenas
coordenados por um único professor. No desenrolar desses trabalhos, entretanto,
foi-se percebendo que ambos projetos se fortaleciam mutuamente numa autêntica
relação simbiótica. Enquanto, por um lado, as aulas sobre virtudes despertavam
o desejo dos alunos a procurarem os preceptores para concretizarem melhor
aqueles conceitos mais abstratos, por outro, as conversas de preceptoria
levavam os estudantes a valorizarem mais o aprendizado teórico. Aos poucos
foi-se concluindo que os dois projetos faziam parte de um único projeto,
intrinsicamente unidos, e que a ausência de um deles comprometeria o sucesso do
outro. Com um conjunto de aulas teóricas sobre como viver as virtudes em casa,
na escola e na convivência social, sem essa concretização personalizada, podia-se
correr o risco de não só se perderem com o passar do tempo, como acontece com
tantos conhecimentos escolares desconexos do contexto dos alunos, como também de
se tornar um conteúdo enfadonho e desinteressante. E as entrevistas de
preceptoria sem uma base sólida de virtudes, podiam colocar em perigo as
orientações a médio e longo prazo, por se tornarem vazias e pouco eficazes. De
alguma maneira, a experiência ocorrida no Colégio Santa Monica foi mais uma
comprovação empírica de que para educar corretamente o ser humano não basta
alimentar apenas a razão teórica, aquela que é iluminada com o conhecimento
mais abstrato, mas que é preciso valorizar também a educação da razão prática,
aquela que promove não só o fortalecimento da vontade, mas também a capacidade
de descobrir os meios mais adequados para chegar aos fins. O que acaba sendo
verdadeiramente interiorizado é o exemplo, a conversa, a convivência, e não só
a teoria, uma boa aula, um bom livro. Podíamos dizer, portanto, que essa
descoberta iluminou uma ideia mais de fundo, que de alguma maneira é o que este
trabalho pretende recordar para o mundo escolar: que não basta pesquisar novas
metodologias de ensino-aprendizagem, novos conteúdos, novas didáticas, por mais
revolucionárias e criativas que possam parecer, se em paralelo não se aprofunda
como o aluno deve amadurecer para aprender. Muitos professores têm a
experiência de que por mais deslumbrante que seja uma aula, tanto pelo conteúdo
quanto pelos meios de última geração tecnológica, nem sempre esses recursos são
suficientes para que os alunos adquiram e retenham corretamente o conhecimento.
De alguma maneira, essa experiência veio reforçar mais uma vez uma tese que,
infelizmente, tem sido desconsiderada na ciência educativa nos últimos anos:
que existe de fato uma conexão antropológica entre as potências humanas da
inteligência, vontade e afetividade e quando elas estão sendo aperfeiçoadas e
fortalecidas pelas virtudes, em parte, podem determinar a aprendizagem dos
alunos. Se um professor quer ensinar com bons resultados matemática, português,
história, ciências, não basta simplesmente expor o conteúdo, como sempre se
fez, apoiado somente na sua capacidade e conhecimento. Ele precisa ensinar
também dentro do seu conteúdo a ética das virtudes. Dessa maneira, conseguirá
que o estudante queira aprender de uma
forma mais eficaz, tornando-se mais protagonista do seu próprio aprendizado.
Está comprovado em estudos recentes que esta é a nova tendência da educação: a
personalização do ensino. Mas para que isso seja viável, é necessário investir
e pesquisar como tornar o alunado mais maduro. Sem fortalecer a sua boa
autonomia, dificilmente se conseguirá subir neste novo patamar da educação.
Outro aspecto relevante desse aprendizado das virtudes, e que se soma ao
anterior, é que ele gerará também uma maior inteligência emocional naqueles
alunos que possam ter possíveis antipatias com as matérias que eventualmente
não gostem ou facilitar que aceitem o professor que por ventura não agrade,
porque ensina de forma deficitária, porque ele mesmo é imaturo ou por outros
motivos. Um professor que tenha este novo perfil ético, com o verdadeiro zelo
educativo, poderá vislumbrar que o conteúdo de sua disciplina deve ser, além de
um fim em si mesmo, um meio para alcançar outros fins igualmente nobres. A matemática, por exemplo, deverá ser a
base de um futuro raciocínio lógico mais arguto, que auxiliará o aluno depois a
não confundir os fins pelos meios e vice-versa. O português será o veículo entre o pensamento e a comunicação,
indispensável para expressar suas próprias ideias e compreender a si mesmo e ao
mundo que lhe rodeia. A história
gerará ricos ensinamentos guardados durante séculos, proporcionará modelos bons
e maus para se espelhar e oferecerá perspectivas futuras mais motivadoras. A ciências será o caminho mais rápido para
a descoberta da sua origem, do seu destino, das suas limitações como criatura, da
sua transcendência, e de alguma maneira a natureza lhe encantará com a
verdadeira beleza. Para que tudo isto aconteça, podemos concluir que a formação
inicial de professores, nos dias que correm, tem que mergulhar urgentemente
nessa ciência ética, dentro de suas disciplinas básicas, de maneira a estar
habilitada para esta nova geração de professores preceptores que o mundo atual
demanda.
Referências Bibliográficas
Malheiro, J. (2014).
Escola com Corpo e Alma: um manual de
ética para pais, professores e alunos. Curitiba: CRV Ltda
Hernando Calvo,
Alfredo (2016). Viagem à escola do século
XXI: assim trabalham os colégios mais inovadores do mundo. São Paulo:
Fundação Telefônica Vivo.
Isaacs, D. (2010). El trabajo de los profesores. Virtudes en los
educadores. Pamplona: EUNSA